Processos Cognitivos da Escrita

Modelo de Hayes e Flower (1980)

Em 1980, John Hayes e Linda Flower propuseram um dos modelos mais influentes na investigação cognitiva da composição escrita que permitiu estabilizar as designações pelas quais as várias componentes da escrita são conhecidas. O modelo distingue três componentes que interagem entre si: ambiente da tarefa, memória a longo prazo e processos cognitivos.

O ambiente da tarefa envolve tudo o que está fora do escritor e influencia o seu desempenho.

A memória de longo prazo compreende um conjunto de conhecimentos que são mobilizados durante a produção escrita. 

A identificação de três processos cognitivos na escrita (viz., planeamento, tradução e revisão) foi a principal contribuição deste modelo. O planeamento envolve a definição de objectivos bem como a geração e organização de ideias. A tradução envolve a transformação das ideias em linguagem. A revisão inclui a leitura e a edição do texto produzido.

Embora estes processos possam ocorrer de forma linear, os autores sugeriram que estes tendem a ser recursivos. Cabe a um monitor decidir quando, como e que processo cognitivo usar.

 

 

 

Modelo Simples da Composição Escrita (Berninger & Winn, 2006) 

Como síntese de um programa de investigação na composição escrita com mais de duas décadas, Berninger e colaboradores (Berninger & Swanson, 1994) sugeriram uma reformulação do modelo de Hayes e Flower (1980).

A partir do estudo da produção de texto em crianças, Berninger e colaboradores  verificaram que a tradução é constituída por dois subprocessos: transcrição e geração de texto.

A transcrição envolve o ortografar correto das palavras e a execução dos gestos motores envolvidos na produção escrita (manuscrita ou em teclado). A geração de texto refere-se à transformação de ideias em representações linguísticas que ficam assim disponíveis para serem transcritas.

Os autores propuseram que a geração de texto resulta da interação entre a transcrição e processos cognitivos superiores de autorregulação (e.g., planeamento e revisão).

No modelo simples da composição escrita, Berninger e Winn (2006) situaram nos vértices da base dum triângulo a transcrição e a  autorregulação que operam em conjunto possibilitando a emergência, no vértice superior, da geração de texto. Estes autores sublinharam ainda o papel da memória de trabalho na escrita, que é contexto no qual estes processos interatuam.

 

 

Para saber mais:

Berninger, V. W., & Swanson, H.L. (1994). Modifying Hayes and Flower!s model of skilled writing to explain beginning and developing writing. In E. Butterfield (Ed.), Children's writing: Toward a process theory of development of skilled writing (pp. 57-81). Greenwich, CT: JAI Press.

Hayes, J. R., & Flower, L. S. (1980). Identifying the organization of writing processes. In L. W. Gregg & E. R. Steinberg (Eds.), Cognitive processes in writing (pp. 3- 29). Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.